De Uta Hagen ao Clube da Voz: A disciplina por trás da Voz Profissional
- anavoz2010
- Nov 3
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Updated: Nov 3
Uma menina e um sonho: ser uma atriz formada pelos grandes mestres da Broadway!

Foi assim que começei minha história, com um sonho! Um sonho que parecia distante para uma menina que morava no Brasil e que vivia em um ambiente em que não havia colegas ou amigos de sua idade com esse mesmo sonho!
Até que eu chegasse a estudar com os grandes mestres de atuação dos EU, foi uma trajetória àrdua e solitária. Quando falava para minhas colegas o que eu queria ser quando crescer ou estudar depois que terminasse o “colegial”, ensino médio a época, todas riam e me perguntavam: “mas, fala Ana, de verdade, o que você vai fazer?” . Ser atriz era algo dispensável, uma brincadeira, no mínimo um “hobby”, mas não era uma profissão a ser levada a sério pelas pessoas de meu convívio.
Assim começava a vontade de sair do Brasil e buscar um ambiente onde essa arte fosse levada a sério. Nova iorque era o lugar – o epicentro dos estudos, da formação e onde nasciam os grandes atores de teatro e cinema.
Quando cheguei lá, fui buscar os tais cursos – “continuing education” , eles se chamavam, cursos livres, mas não se enganem, de altíssima qualidade e com professores absolutamente engajados na profissão, que transitavam entre o teatro e o cinema, entre o mundo real da atuação e o lecionar. Era uma oportunidade de ouro estar ali ouvindo-os e aprendendo seu “craft” - sua arte, através de muitas técnicas e disciplina.
Minha primeira professora se chamava Ann Rachel, da New School of Continuing Education e havia sido pupila de Uta Hagen, atriz original da Alemanha, que migrou para os EU e era premiadíssima na Broadway americana. Ann já nos designou a leitura do livro “Respect for Acting” (Respeito à Atuação”)…de Ms. Uta Hagen, que era baseado nas técnicas do mestre Constantin Stanislavsky “An Actor Prepares”. Não houve dúvidas que estava no lugar certo. Li o livro compulsivamente e concomitantemente a isso, em nossas aulas, Ann nos ilustrava os seus passos e nos fazia praticar cada uma das técnicas ensinadas em cada capítulo através de práticas de cenas de peças americanas que ensaiávamos em duplas com os colegas. Cada demonstração das cenas eram comentadas e criticadas por ela de forma absolutamente contumaz. Um aprendizado enorme e infinito, prático e experimental e vivencial, não havia

como se eximir das instruções e críticas ácidas dela de como usar os passos para atuar da melhor forma e isso tudo deixou marcas indeléveis em mim que permaneceriam em meu íntimo por todo o tempo e toda minha vida.
Aquilo me marcou já desde o começo: gente devota, que levava a arte seriamente, ensinando com todo o respeito, outros que tinham sede de levar consigo profundamente o conteúdo e a forma de se entregar a uma arte com base sólida, dedicação e disciplina.
Dali, fui cursar no Actor’s Studio. Meca dos grandes atores de Hollywood dos anos 1950 aos 1980, que passaram por lá e tiveram o Sr. Lee Strasburg como mestre. Estamos falando, nada mais, nada menos que, Marlon Brando, Al Pacino, Robert Deniro, entre muitos outros deuses do Olimpo do Cinema americano. O curso oferecido aos amadores e iniciantes, como eu, era no Lee Strasbourg Institute, que tinha um programa “full time” com cursos que compunham um programa profissionalizante de um ano com disciplinas que iam desde a própria técnica do “Method”, criada por Strasbourg e utilizada por Marilyn Monroe, até Tai Chi Chuan, Canto Dramático para Musicais, atuação para cinema etc. Lembro-me de que uma de minhas colegas era a Uma Thurman, modelo, alta e esguia, sentava-se nas cadeiras ao meu lado para treinar a respiração que liberava o diafragma e soltava as emoções para nos prepararmos para atuar. Uma noite recebemos para uma conversa/palestra o grande Anthony Quinn – fiquei absolutamente embevecida por sua simplicidade, humildade e ensinamentos. Ele falou sobre seu processo de criação de personagens, foi incrível!
Ali, no Lee Strasbourg Institute conheci uma atriz e colega que se tornaria uma grande amiga e mentora, Christina Contseta, uma grega formada na Academia Grega de Tragédias e que estava nos EU para perseguir o mesmo sonho que eu. Foi ela quem me mostrou outros caminhos. Era uns 6 a 7 anos mais velha e tinha muito mais foco e maturidade que eu. Ainda, então, eu era uma menina ingênua e encantada com toda multiplicidade de conhecimentos e ensinamentos que eu tinha às mãos, mas, com pouca maturidade e visão para avançar de forma mais profissional e séria.

Foi, ela, Christina, a grega, quem me abriu os olhos para a oportunidade de ouro e desafiadora de estar entre os melhores e fazer aulas com a mestra do teatro americano Uta Hagen. Nunca havia achado que eu teria condições de ser aceita e passar pelo processo árduo de suas “auditions” - testes super concorridos para ser uma seleta aluna e atriz de seu grupo exclusivo e pequeno de ingressantes aceitos pelo seu rígido crivo. Mas, Christina, sim, acreditava e eu me joguei! Ensaiávamos todos os dias, por no mínimo 4 horas, uma cena de uma peça sugerida dentre outras pelas orientações específicas do processo seletivo: Era “The Girl on the Via Flaminia”, uma peça de Alfred Hayes que contava a história de duas italianas pós guerra tentando sobreviver os horrores da devastação. Ficou perfeito: ela era a personagem, uma mulher mais velha, que assume um cuidado por uma moça mais nova que enfrenta dificuldades de necessidades básicas e pode ter uma mentora para tirá-la do buraco. Tínhamos uma relação um pouco similar e um carinho uma pela outra, que agregado às infinitas horas de nossos ensaios encantou Ms. Hagen! E passamos e entramos para o seleto grupo de alunos dela! Foi incrível. Em paralelo, fui fazer inscrição na universidade NYU no departamento de Drama e na escola de Stela Adler, outra gigante do teatro e cinema americanos.
Em todo o tempo que estive em NY, uma coisa ficou em mim, que foi a persistência e a aprofundada dedicação que os artistas possuíam em se formar e se tornar melhores. Lá sabíamos que até os grandes, como Pacino e De Niro, continuavam fazendo aulas particulares com seus grandes Coaches ad eternum, como se aprimorar fosse um processo infinito! Isso me fez mais forte, aumentou minha auto estima e me mostrou o quanto a formação e a curiosidade para sempre aprender novas maneiras de se fazer se refletiu em tudo que fiz na vida.
Tanto para minha carreira de Locutora Comercial, como para minha carreira de Intérprete e Tradutora. Sempre busquei excelência, nos meus cursos de Pronúncia, de Fonética, de canto, de Idiomas estrangeiros, de Termos técnicos presentes em tantas palestras internacionais que tive que interpretar simultaneamente. Isso tudo fortalece meu repertório de linguagem e comunicação. Deixou-me pronta para atender qualquer segmento e saber me portar e falar os “dialetos” de cada “business”. Transito com facilidade na comunicação e nas tonalidades necessárias para cada negócio. Vivi e vivenciei muito no mundo corporativo, técnico, artístico e isso me faz ser extremamente versátil e preparada para atender os pedidos de meus clientes com uma voz profissional.

























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